Será que esbarrar no outro nos traz de volta à vida?
Existe um conto de Dostoiévski que, para mim, condensa toda a sua obra — e por muito tempo foi meu texto favorito dele, até Os Irmãos Karamázov: “O sonho de um homem ridículo”. Esse conto fala sobre o abismo do niilismo, tema recorrente do autor russo.
O niilismo é a convicção filosófica de que tudo é indiferente, de que a vida é totalmente desprovida de sentido. O homem ridículo encarna essa visão: “para mim, dava no mesmo que existisse o mundo ou que nada houvesse em lugar nenhum”. Ele se encontra em um estado que transcende qualquer dicotomia — é a experiência da ausência absoluta de significado.
E se levamos essa ideia até as últimas consequências, como Dostoiévski faz com seus personagens, qual seria o ato racional mais coerente? O suicídio. Para o homem ridículo, isso seria um gesto de honestidade intelectual: se nada faz sentido, por que e para quê viver? Qualquer outra coisa seria covardia.
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